domingo, 23 de setembro de 2012

Zircônia: Resistência mecânica x adesividade

As restaurações cerâmicas têm sido cada vez mais utilizadas pelos profissionais que procuram devolver estética ao sorriso dos pacientes. Dessa forma, as cerâmicas reforçadas tem sido amplamente estudadas, garantindo assim resistência mecânica aos esforços mastigatórios, substituindo o metal nas infra-estruturas. Dentre as cerâmicas reforçadas, as que utilizam o reforço com óxido de zircônio (zircônia) estão sendo amplamente estudadas devido à sua alta resistência à flexão e propriedades mecânicas, o que torna possível a sua utilização em próteses fixas de até 10 elementos. Entretanto, existem 2 grandes desvantagens das restaurações cerâmicas reforçadas por zircônia: 1- o coeficiente de expansão térmica que é muito diferente da cerâmica feldspática de cobertura, o que muitas vezes provoca a delaminação (chipping) da cerâmica de cobertura; 2- a união deficiente aos cimentos resinosos disponíveis, já que sua superfície interna não consegue receber um tratamento adesivo tão eficaz quanto as cerâmicas vítreas. Sendo assim resta uma dúvida: o que seria melhor, a alta resistência mecânica da coroa cerâmica ou uma correta adesividade com o substrato dental? A tendência é que se procurem maneiras de alterar a composição da cerâmicas de zircônia, para que o seu coeficiente de expansão térmica seja o mais similar possível com a cerâmica de cobertura e, além disso, desenvolver algum produto ou técnica para tratamento interno de superfície para promover as microretenções e consequentemente melhorar a união cerâmica/cimento resinoso. Alguns pesquisadores da New York University (NYU) tem estudado a possibilidade de graduar a cerâmica de zircônia com vidro, para que esta possa ser condicionada com ácido fluorídrico e melhorar a união com o substrato. Outros pesquisadores investem em desenvolvimento de primers para metal (o zircônio é um metal branco) com o intuito de estabelecer uma união química entre zircônia e cimento resinoso. Outros estudam tratamentos de silicatização (aplicação de sílica de maneira triboquímica) na superfície interna da peça. Mas, no Brasil ainda é pouco difundido. Creio que as restaurações com cerâmicas à base de zircônia tem indicação e o protocolo mais aceito e utilizado de cimentação hoje seria: Superfície interna da cerâmica: 1- silicatização (cojet ou Rocatec - 3M Espe); 2- aplicação de primer para metal (Alloy Primer -Kuraray; Metal/Zircônia Primer - Ivoclar Vivadent), 3- aplicação de cimento resinoso de cura química (a zircônia não permite uma adequada passagem de luz para a polimerização física do cimento resinoso). Para a estrutura dental: protocolo adesivo convencional ou autocondicionante. Os cimentos auto-adesivos tem se mostrado promissores (apenas de maneira imediata, não a longo prazo) de promover uma boa união com a zircônia, devido aos monômeros fosfatados, que possuem uma boa união ao metal. Diante disso tudo, temos que garantir uam boa retenção mecânica da minha preparação dental, para não depender da adesão do cerâmica com o dente e torcer para que não haja o lascamento da cerâmica de cobertura das peças cimentadas ao longo do tempo. E ai voltamos à pergunta inicial: o que seria melhor, a alta resistência mecânica da coroa cerâmica ou uma correta adesividade com o substrato dental? Acredito que as cerâmicas à base de zircônia tenham sua correta indicação (cada caso é um caso) e deve ser analisado de maneira bem cautelosa, pois as cerâmicas vítreas reforçadas, como as reforçadas por dissilicato de lítio, leucita e infiltradas por vidro (alúmina) possuem alta resistência adesiva e estética, quando realizadas de maneira correta e com a indicação certa. Cabe a você, profissional, pesar os prós e os contras do caso em questão. E, mão na massa. Viva as possibilidades de tratamento com cerâmica!

                                         Caso inicial

                                         Copings em zircônia (E.max Zir-CAD, Ivoclar Vivadent)

                                         Coroas cerâmicas reforçadas por Zircônia (Cerâmicas realizadas no Laboratório Aliança, Técnico Marcos Celestrino, SP, Brasil)

                                         Caso finalizado