segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Entrevista: Luciano Cabral


O Dr. Luciano Cabral é cirurgião-dentista, especialista em Prótese Dental pela USP - Bauru, além de técnico em prótese dental. Atualmente é clínico em tempo integral no Rio de Janeiro.



 

1-Qual a grande tendência estética em Implantodontia?

Acredito que não haja uma única tendência estética dentro da Implantodontia atual, o que observo é que todos os recursos atuais disponíveis, buscam sempre a otimização dos resultados clínicos. Em se tratando da Implantodontia propriamente dita, vejo um avanço considerável na estrutura dos implantes como desenho de superfície, tratamento superficial, passos de rosca, ou seja... tudo para otimizar uma osseointegração no menor tempo possível e impedir ou diminuir a perda óssea marginal após a instalação dos mesmos. Tratamentos como implantações imediatas, com provisionalização hoje já são uma realidade, trazendo conforto e segurança para os nossos pacientes. Na parte de Reabilitação Protética, acredito que as infra-estruturas em Zircônia, assim como os intermediários ou abutments estéticos, otimizaram em muito o perfil estético dos trabalhos sobre implantes, principalmente na região anterior. Sistemas de fresagem CAD-CAM, resinas e cerâmicas na cor da gengiva, e com a qualidade cada vez maior dos nossos técnicos, acredito que em um futuro bem próximo, tornará os tratamentos sobre implantes, praticamente imperceptíveis do ponto de vista estético.

2-Por que fazer um implante ime­diatamente após a exodontia?

Citada inicialmente por Whorle, a grande vantagem de se fazer um implante imediato é a possibilidade de manutenção dos tecidos moles e duros existentes, levando a resultados estéticos positivos sem a necessidade de pro­cedimentos posteriores para aumentar esses tecidos, além de evitar uma nova intervenção cirúrgica através da reabertura para confecção da prótese definitiva, pois o paciente já estará com os componentes protéticos instalados.

3- Quais cuidados deverão ser analisados para o sucesso neste tipo de tratamento?

A correta seleção do caso, com a análise de vários itens, é que vai ditar o sucesso des­te tratamento. Presença de osso remanes­cente apical à raiz para ancoragem primária do implante; exodontia minimamente invasiva ou atraumática, preservando a arquite­tura óssea local; o correto posicionamento tridimensional do implante e contornos adequados das coroas provisórias (correto perfil de emergência) são os fatores mais importantes que contribuirão para o sucesso do tratamento. Também é muito importan­te que o profissional tenha feito uma ótima anamnese, certificando-se de que o paciente encontra-se com boas condições de saúde.

4- E quando após a exodontia do elemento dentário nos depararmos com defeitos ósseos no alvéolo?

Trata-se de uma ocorrência comum, por isso, devemos ter o máximo cuidado durante a exodontia, evitando sempre que possível o uso de fórceps e os movimentos de rotação para não alargar o alvéolo. O uso de peri­ótomos e minialavancas tem se mostrado bastante eficiente nesta prática. Em algu­mas situações favoráveis, pode-se realizar a exodontia através de extratores mecâni­cos, como o Benex Root Extraction System, preservando ao máximo a fina tábua óssea vestibular, que é de suma importância para a previsibilidade estética deste procedimento. O espaço formado entre o implante e o alvé­olo deverá ser sempre que possível preenchi­do com osso autógeno ou um bom bioma­terial, permitindo a formação óssea em um tempo reduzido, além de melhor qualidade, principalmente, com carga imediata.

5- Devo instalar o implante na mesma direção da raiz, ou seja, aprovei­tando o alvéolo existente?

É um dos erros mais comuns neste tipo de tratamento o cirurgião tentar acompanhar a direção da raiz ou do alvéolo pré­-existente levando ao fracasso no correto posicionamento do implante. O correto po­sicionamento tridimensional do implante é de extrema importância para evitar erros no seu posicionamento. No sentido ápico-coro­nal, a plataforma do implante deverá ser co­locada cerca de 3 mm em direção apical da margem gengival, coincidindo com o nível da crista óssea alveolar. No sentido vestíbu­lo-palatino, devemos sempre fazer a perfu­ração para a tábua óssea palatina (fugindo do alvéolo pré-existente) para aumentar a estabilidade inicial e preservar a tabua óssea vestibular. No sentido mésio-distal devemos manter uma distância mínima de 1,5 mm do implante as raízes dos dentes adjacentes, permitindo que o tecido inter-proximal e o nível ósseo sejam mantidos.

6- Quais cuidados devemos ter ao confeccionar a prótese provisória?

É importante o correto perfil de emer­gência sub-gengival da coroa provisória, per­mitindo o preenchimento de todo o espaço da embocadura alveolar e manter a anatomia do contorno gengival para evitar suturas. Uma ligeira concavidade da porção sub-gengival permitirá a maturação adequada dos tecidos moles, contribuindo para a sua acomodação. Convexidades nessa região poderão acarretar em sobrecontornos, exercendo pressão sobre a gengiva e podendo levar, desta forma, à re­cessão gengival, principalmente, em fenótipos delgados. Para concluir, a instalação imediata de um implante logo após a exodontia, com colocação imediata de uma coroa provisó­ria, tem se mostrado um tratamento muito seguro, quando bem indicado. Evite, sempre que possível, retalhos nestas situações, dessa forma, manteremos a vascularização local e contribuiremos muito para o resultado esté­tico deste tratamento.

7-Tem alguém que te inspira na Implantodontia?

Penso que qualquer profissional atuante em uma determinada especialidade, busque sempre se inspirar nas pessoas que são referências. Nesse contexto, é inegável não colocar em primeiro lugar, o professor P-I Branemark,precursor de toda a história da Implantodontia. Citaria também o professor Carl E.Misch, com seus ensinamentos clássicos, através de sua literatura ( não conheço um Implantodontista que não tenha seus livros).São muitos, poderia fazer um longo texto citando todos que admiro, mas aqui no Brasil tenho uma admiração por alguns nomes como o prof. Mário Groisman, Wilson Roberto Sendyk,Aziz Constantino, Fábio José Barboza Bezzera,Geninho Thomé, Laércio Vasconcelos, Carlos Eduardo Francischone,Hugo Nary Filho, entre outros.

Entrevista realizada por Eduardo Souza Junior (perguntas 1 e 7). Demais perguntas da entrevistas foram originalmente publicadas no Jornal da APCD (2012).